Profetas e Reis

A Vinha do Senhor

Foi com o propósito de transmitir os melhores dons do Céu a todos os povos da Terra, que Deus chamou Abraão do meio de sua parentela idólatra, e mandou-o habitar na terra de Canaã. “Far-te-ei uma grande nação”, disse Deus, “e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.” Gên. 12:2. Foi uma alta honra aquela para a qual Abraão fora chamado – a de ser o pai do povo que por séculos devia ser o guardião e preservador da verdade de Deus para o mundo, povo esse por cujo intermédio todas as nações da Terra deveriam ser abençoadas no advento do prometido Messias. {PR 5.12}

Os homens haviam quase perdido o conhecimento do verdadeiro Deus. Sua mente estava entenebrecida pela idolatria; pois os estatutos divinos, que são santos, justos e bons (Rom. 7:12), haviam eles procurado substituir por leis em harmonia com os propósitos de seu próprio coração cruel e egoísta. Contudo, em Sua misericórdia Deus não os apagou da existência. Ele Se propôs dar-lhes a oportunidade de se familiarizarem com Ele por intermédio de Sua igreja. Foi Seu desígnio que os princípios revelados por intermédio de Seu povo seriam o meio de restaurar no homem a imagem moral de Deus. {PR 5.13}

A lei de Deus devia ser exaltada, sua autoridade mantida; e à casa de Israel foi entregue esta grande e nobre obra. Deus separou-os do mundo, para que pudesse confiar-lhes o sagrado encargo. Fê-los depositários de Sua lei, e propôs preservar por intermédio deles o conhecimento de Si mesmo entre os homens. Assim devia a lei do Céu brilhar no mundo envolvido em trevas, e uma voz devia ser ouvida apelando a todos os povos para que volvessem da idolatria, a fim de servirem ao Deus vivo. {PR 5.14}

“Com grande força e com forte mão” (Êxo. 32:11), Deus tirou Seu povo escolhido da terra do Egito. “Enviou Moisés, Seu servo, e Arão, a quem escolhera. Fizeram entre eles os seus sinais e prodígios, na terra de Cão”. Sal. 105:26 e 27. “Repreendeu o Mar Vermelho e este se secou, e os fez caminhar pelos abismos como pelo deserto.” Sal. 106:9. Ele os libertou de sua condição de servos, para que pudesse levá-los a uma boa terra – uma terra que em Sua providência havia-lhes preparado como refúgio de seus inimigos. Queria trazê-los para Si, e envolvê-los em Seus braços eternos; e em retribuição de Sua bondade e misericórdia deviam eles exaltar Seu nome e fazê-lo glorioso na Terra. {PR 5.15}

“Porque a porção do Senhor é o Seu povo; Jacó é a corda da Sua herança. Achou-a na terra do deserto, e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, se move sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho.” Deut. 32:9-12. Assim trouxe o Senhor os israelitas para junto de Si, para que habitassem como que à sombra do Altíssimo. Miraculosamente preservados dos perigos do errante viajar pelo deserto, foram eles finalmente estabelecidos na terra da promessa como uma nação favorecida. {PR 5.16}

Mediante o uso de uma parábola, Isaías narrou com tocante sentimento a história do chamado e preparo de Israel para ser no mundo representante de Jeová, frutífero em toda boa obra: {PR 5.17}

“Agora cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito de sua vinha. O meu amado tem uma vinha num outeiro fértil, e a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas.” Isaías 5:1 e 2. {PR 5.18}

Por intermédio do povo escolhido, tinha Deus o propósito de abençoar toda a espécie humana. “A vinha do Senhor dos exércitos”, declarou o profeta, “é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das Suas delícias.” Isaías 5:7. {PR 5.19}

A esse povo foram confiados os oráculos de Deus. Estavam protegidos pelos preceitos de Sua lei, os eternos princípios da verdade, justiça e pureza. A obediência a esses princípios devia ser a sua proteção, pois os livraria de se destruírem a si mesmos por práticas pecaminosas. E, como uma torre na vinha, Deus colocou no meio da terra Seu santo templo. {PR 5.20}

Cristo era seu instrutor. Assim como havia sido com eles no deserto, devia ser ainda seu Mestre e Guia. No tabernáculo e no templo, Sua glória habitava no santo Shekinah, em cima do propiciatório. No benefício deles Ele manifestava constantemente as riquezas do Seu amor e paciência. {PR 5.21}

Por intermédio de Moisés os propósitos de Deus deviam ser-lhes expostos, e os termos de sua prosperidade tornados claros. “Porque povo santo és ao Senhor teu Deus”, disse ele; “o Senhor teu Deus te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há.” Deut. 7:6. {PR 5.22}

“Hoje declaraste ao Senhor que te será por Deus, e que andarás nos Seus caminhos, e guardarás os Seus estatutos, e os Seus mandamentos, e os Seus juízos, e darás ouvidos à Sua voz. E o Senhor hoje te fez dizer que Lhe serás por povo Seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os Seus mandamentos. Para assim te exaltar sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória, e para que sejas um povo santo ao Senhor teu Deus, como tem dito.” Deut. 26:17-19. {PR 5.23}

Os filhos de Israel deviam ocupar todo o território que Deus lhes indicara. Aquelas nações que haviam rejeitado a adoração e serviço ao verdadeiro Deus, deviam ser despojadas. Mas era propósito de Deus que pela revelação de Seu caráter através de Israel, fossem os homens atraídos para Si. O convite do evangelho devia ser dado a todo o mundo. Mediante o ensino do sistema de sacrifícios, Cristo devia ser erguido perante as nações, e todos que olhassem para Ele viveriam. Todo aquele que, como Raabe, a cananita, e Rute, a moabita, tornassem da idolatria para o culto ao verdadeiro Deus, deviam unir-se ao Seu povo escolhido. À medida em que o número dos israelitas crescesse, deviam eles ampliar suas fronteiras, até que o seu reino envolvesse o mundo. {PR 5.24}

Mas o antigo Israel não cumpriu o propósito de Deus. O Senhor declarou: “Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel: como pois te tornaste para Mim uma planta degenerada, de vide estranha?” Jer. 2:21. “Israel é uma vide frondosa; dá fruto para si mesmo.” Osé. 10:1. “Agora pois, ó moradores de Jerusalém, e homens de Judá, julgai, vos peço, entre Mim e a Minha vinha. Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? e como, esperando Eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas? Agora pois vos farei saber o que Eu hei de fazer à Minha vinha: tirarei a sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede, para que seja pisada; e a tornarei em deserto; não será podada nem cavada; mas crescerão nela sarças e espinheiros; e às chuvas darei ordem para que não derramem chuva sobre ela. Porque... esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor.” Isaías 5:3-7. {PR 5.25}

O Senhor havia, por intermédio de Moisés, exposto perante o Seu povo os resultados da infidelidade. Recusando guardar Seu concerto, estariam se excluindo da vida de Deus, e Sua bênção não podia vir sobre eles. Às vezes essas advertências eram ouvidas, e ricas bênçãos eram concedidas à nação judaica e por meio deles aos povos em redor. Mas a maior parte das vezes em sua história eles se esqueceram de Deus, e perderam de vista seu elevado privilégio como povo que O representava. Roubaram-nO do serviço que deles requeria, e roubaram o próximo da guia religiosa e santo exemplo. Desejaram apropriar-se do fruto da vinha sobre a qual haviam sido postos como mordomos. Sua avidez e cobiça tornaram-nos desprezíveis aos olhos dos próprios pagãos. Assim deu-se ao mundo gentio a ocasião de interpretar mal o caráter de Deus e as leis de Seu reino. {PR 5.26}

Com coração paternal Deus tratou com Seu povo. Argumentou com eles sobre bênçãos concedidas e bênçãos retidas. Pacientemente pôs perante eles seus pecados, e em espírito de demência esperou por seu reconhecimento. Profetas e mensageiros foram-lhes enviados para apresentar Seus reclamos aos lavradores; mas em lugar de serem bem recebidos, esses homens de poder e discernimento espiritual foram tratados como inimigos. Os lavradores perseguiram-nos e mataram-nos. Deus enviou ainda outros mensageiros, mas receberam o mesmo tratamento dispensado aos primeiros, com a única diferença que os lavradores mostraram ainda mais determinado ódio. {PR 5.27}

A retenção do divino favor durante o período do exílio levou muitos ao arrependimento; não obstante após seu retorno à terra da promessa, o povo judeu repetiu os erros das gerações anteriores, e entrou em conflito político com as nações circunvizinhas. Os profetas a quem Deus enviara para corrigir os males prevalecentes, foram recebidos com a mesma desconfiança e escárnio com que foram tratados os mensageiros dos antigos tempos; e assim, de século em século, os guardas da vinha fizeram-se mais culpados. {PR 5.28}

A excelente vide plantada pelo divino Lavrador sobre os montes da Palestina fora desprezada pelos homens de Israel, e finalmente foi lançada fora da vinha; tripudiaram sobre ela, pisaram-na a pés, e esperavam que a tivessem destruído para sempre. O Lavrador removera a vinha, e a ocultara de suas vistas. Plantou-a de novo, mas do outro lado do muro, e de tal maneira que o tronco não mais ficou visível. As varas pendiam sobre o muro, de maneira que se poderiam nelas fazer enxertos, mas o tronco mesmo foi posto fora do alcance do homem e de poder este causar-lhe dano. {PR 5.29}

De especial valor para a igreja de Deus sobre a Terra hoje - os guardas de Sua vinha - são as mensagens de consolo e admoestação dadas através dos profetas que tornaram claro Seu eterno propósito em favor da humanidade. Nos ensinos dos profetas, Seu amor pela raça caída e Seu plano para a sua salvação claramente são revelados. A história do chamado de Israel, de seus sucessos e fracassos, sua restauração ao favor divino, a rejeição do Senhor da vinha e a execução do plano dos séculos por um bom remanescente a quem seriam cumpridas todas as promessas do concerto - tal foi o tema dos mensageiros de Deus a Sua igreja através dos séculos já passados. E hoje a mensagem de Deus a Sua igreja - aos que Lhe estão ocupando a vinha como fiéis lavradores - não é outra senão aquela expressa pelo profeta do passado: {PR 5.30}

“Naquele dia haverá uma vinha de vinho tinto; cantai-lhe. {PR 5.31}

Eu, o Senhor, a guardo. {PR 5.32}

E a cada momento a regarei; {PR 5.33}

Para que ninguém lhe faça dano, {PR 5.34}

De dia e de noite a guardarei.” Isaías 27:2, 3. {PR 5.35}

Espere Israel em Deus. O Senhor da vinha está mesmo agora reunindo dentre todas as nações e povos os preciosos frutos pelos quais tem há tanto tempo esperado. Logo Ele virá para o que é Seu; e nesse alegre dia, Seu eterno propósito para a casa de Israel será finalmente cumprido. “Jacó lançará raízes, e florescerá e brotará Israel, e encherão de fruto a face do mundo.” Isaías 27:6. {PR 5.36}

Origem: https://egwwritings.org/?ref=pt_PR.5¶=1816.2629