Meus Últimos Momentos de Vida?
Não Foi Por Acaso

Era uma quarta-feira. Fazia seis dias que eu havia passado pela segunda cirurgia e algo não estava bem. Desde o domingo eu estava recebendo transfusões de sangue e plasma e se notava sangue saindo em quantidade significativa pela sutura da cirurgia, encharcando os curativos. Algumas vezes eu senti também um leve formigamento nas pernas, mas achava que isso seria alguma reação indesejável momentânea sem qualquer vínculo com a minha recuperação; afinal, qualquer pessoa sente a perna formigar só de ficar sentada numa posição não muito adequada.

Fui levado para o banho naquela cadeira de rodas destinada a essa finalidade e sentia-me fraco. Foi-me dito para ficar em pé para enxugar o restante do corpo e, ao me levantar com dificuldade, disse que não estava me sentindo bem; foi a última coisa de que me lembro de dentro do banheiro - desabei em cima da pessoa que estava me dando banho.

Comecei a acordar cercado de enfermeiros enquanto um deles me puxava para fora do banheiro já na cadeira de rodas, chamando-me pelo nome e dizendo-me que eu havia me sentido mal porque minha pressão havia caído.

Já na cama, começaram os primeiros atendimentos sendo que logo comecei a receber oxigênio enquanto o médico chegava ao quarto disfarçando a preocupação. Aplicaram-me medicações e o soro foi aberto enquanto o médico, muito eficiente, procurou me manter calmo, sendo gentil e falando da melhor forma possível que eu deveria estar com hemorragia interna e que precisaria ser operado novamente e imediatamente.

Ele foi muito sábio no uso das palavras e procurava amenizar a gravidade da situação, inclusive aproveitando o fato de eu ter acabado de sair do banho como desculpa para não esperar a maca: “Ele acabou de sair do banho e está quentinho na cama. Não precisamos esperar a maca para levá-lo à sala de cirurgia; vamos levá-lo na cama mesmo, assim ele fica mais confortável”. Ele foi muito gentil; mas o fato é que eu já estava morrendo e talvez nem chegasse à sala de cirurgia.

Um cilindro portátil de oxigênio foi rapidamente colocado em baixo da minha cama e fui conduzido às pressas pelos corredores em direção à sala de emergência, a “sala amarela”, onde os últimos preparativos deveriam ser feitos.

Havia tão pouco sangue no meu corpo que eu perdia a consciência de tal forma que não percebia os lapsos de tempo entre os momentos nos quais eu desmaiava e recuperava a consciência. Pareceram ser poucos minutos, mas fiquei mais de meia hora na “sala amarela” com uma grande quantidade de enfermeiros e médicos entrando e saindo apressadamente, agindo como se houvesse uma grande crise acontecendo. Enfermeiros do banco de sangue entravam às pressas, trazendo aquela maleta característica, e até um dos diretores do hospital foi até lá. De nada disso eu estava sabendo, pois perdi a consciência novamente; e agora, por um período de tempo maior.

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Texto extraído do livro
Não Foi Por Acaso
da Editora Luzes da Alvorada.
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