Possibilidade de Crescimento
Histórias Inesperadas

O tempo passou e eles atingiram a idade na qual poderiam trabalhar sem impedimento. Foi quando descobriram que o Hospital das Clínicas de São Paulo estava admitindo atendentes de enfermagem, função que não existe mais atualmente. Depois de passarem por avaliações e treinamento, ambos começaram a trabalhar efetuando tarefas básicas, como dar banho nos pacientes ou levá-los ao banheiro.

Quando ainda estavam nas ruas, entre os livros que estudaram em suas visitas à biblioteca municipal estava “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, escrito por Dale Carneguie. O que aprenderam por meio desse livro foi de grande valia quando eles, depois de já terem trabalhado por alguns anos no hospital, resolveram subir um pouco mais alto na vida.

Dispondo-se a buscar novas oportunidades eles foram até a diretoria do Departamento de Enfermagem do HC e pediram uma audiência com o superintendente. Sendo recebidos, utilizaram todos os recursos obtidos nos anos de estudo na biblioteca, especialmente os encontrados no citado livro, para pleitear uma bolsa de estudos na escola superior de enfermagem e, por incrível que possa parecer, conseguiram!

Foi uma decisão complicada, pois pouquíssimos homens se aventuravam a estudar enfermagem em uma época na qual esse trabalho era considerado serviço de mulher. Apesar do preconceito que enfrentaram, estando entre os poucos homens que assistiam às aulas numa sala com mais de cinquenta mulheres, eles perseveraram até a conclusão do curso, em 1957, quanto se tornaram aptos a receber da Escola da Cruz Vermelha Brasileira o diploma de enfermeiros. Algum tempo depois disso eles se tornaram enfermeiros chefes do setor de enfermagem do Hospital das Clínicas.

Se a história deles tivesse avançado só até esse ponto ela já seria uma tremenda lição de vida; mas eles não quiseram mais parar de aprender e crescer. Algum tempo depois Daniel dedicou-se a outra área de estudos e formou-se também em Contabilidade, enquanto Luiz prosseguia seu desenvolvimento na área da saúde.

Já graduado em Contabilidade, Daniel deparou-se com um concurso para Auditor da Receita Federal; ele se inscreveu e fez as provas. Duas semanas depois chegou à sua casa um telegrama solicitando-lhe que comparecesse à Receita Federal com urgência. A princípio ele pensou que não fosse algo importante, pois imaginava que não tivesse tirado notas muito boas. Contudo, pouco tempo depois, chegou outro telegrama marcando o dia no qual ele deveria tomar posse do cargo. Foi assim que Daniel, depois de passar mais um ano em treinamento, se tornou Auditor da Receita Federal, cargo que exerceu até o ano de 1984, quando se aposentou.

A vida é cheia de desafios e quando sabemos tirar proveito, até mesmo as circunstâncias mais desfavoráveis podem se tornar instrumentos para o nosso crescimento. Um dilema que Daniel teve que enfrentar em sua nova atividade foi a indisposição de algumas pessoas responsáveis por empresas que tinham que ser visitadas por ele em seu trabalho de auditoria. Algumas dessas empresas contratavam advogados para cuidarem dos assuntos mais delicados e estes, por vezes, se mostravam pouco dispostos a colaborar e até questionavam a autoridade de Daniel, apesar de o mesmo ser formado em Contabilidade e estar atuando em nome da Receita Federal. Foi por isso que Daniel e Luiz voltaram aos estudos mais uma vez, agora na faculdade de Direito, tornando-se também advogados.

Luiz, prosseguindo na área da saúde, e tendo feito pós-graduações, mestrados e doutorados (o plural não é acidental), deu aulas nas Universidades de Mogi das Cruzes e de Londrina. Em 1978 Luiz iniciou uma nova fase de atividades na UNICAMP, onde foi professor titular. Ele fez ainda pós-doutorado em Direito e na área da saúde, passando por universidades mundialmente famosas como a de Bolonha, a mais antiga da Europa, na Itália, e a Columbia University, nos Estados Unidos. Foi também o fundador da Faculdade de Enfermagem e um dos fundadores do Hospital das Clínicas da UNICAMP, tendo participado até mesmo da elaboração do projeto de construção do prédio do referido hospital.

Tive o privilégio de conhecer a ambos, bem como o de ter cantado com o Dr. Daniel Anastácio da Silva em um conjunto masculino ao qual dirigi há alguns anos atrás. Ele é grande apreciador de música e, além de cantar, tem grande afinidade com o violino. Mesmo depois de ter se aposentado das suas atividades na Receita Federal, ele ainda tem um escritório de Advocacia em Artur Nogueira, no interior de São Paulo, onde reside.

Quanto ao Dr. Luiz Cietto, tenho que admitir que seria difícil enumerar aqui as graduações e pós-graduações alcançadas por ele. De acordo com o amigo, Dr. Daniel Silva, o Dr. Luiz Cietto sempre foi uma pessoa muito inteligente, nunca tirando notas menores que dez em todos seus os cursos, pós-graduações, mestrados, doutorados e pós-doutorados. Se fossemos enumerar e descrever os graus de formação atingidos por ele seria necessário acrescentar algumas folhas a mais neste livro.

Apenas para dar uma breve amostra do que ele alcançou nos estudos, podemos citar que ele fez pós-doutorado em Administração de Enfermagem em 1983 e 1984 na Colombia University, em New York, USA, pós-doutorado em direito sanitário na universidade de Bologna, na Itália, em 2006, defendendo depois sua tese de pós-doutorado na USP, em São Paulo, e em 2009, na Universidade de Perugia, na Itália, estudou a língua e os costumes daquele país.

O Dr. Luiz Cietto é hoje professor titular de Direito na Faculdade UNASP de Engenheiro Coelho, São Paulo, onde reside.

Será que as famílias de Luiz e Daniel poderiam imaginar que aqueles dois meninos fugitivos chegariam a ser alguém na vida? Será que eles alguma vez chegaram a ter notícias dos meninos?

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Texto extraído do livro
Histórias Inesperadas
da Editora Luzes da Alvorada.
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